Artigo na íntegra: |
21º
CIAED 2015, um relato sob o olhar de novas perspectivas.
Por Enilton Ferreira Rocha, especialista em EaD.
Lattes: http://lattes.cnpq.br/1682585826032961
1.
Introdução
Este
texto apresenta um relato de participação no 21º Congresso Internacional ABED[1] de
Educação a Distância, CIAED, 2015, realizado em Bento Gonçalves, RS, no período
de 25 a 29 de outubro de 2015, retratando anotações de observações pessoais
durante os cinco dias que lá estive participando de algumas atividades, na
busca de informações e novidades que pudessem traduzir os novos caminhos da
educação, em especial da educação a distância, e que gerou esse documento.
2.
Percepções
Gerais
A
começar pelo título do Congresso: "Se eu fosse Ministro da Educação, eu
faria o seguinte a propósito da EaD ...”. Título bem sugestivo, principalmente
se considerarmos o posicionamento do governo em relação à educação a distância
e o que informa o Conselho Nacional da Educação: “66% dos municípios
brasileiros não têm oferta de ensino superior” (Portal do CIAED, 2015). Nesse
sentido, os palestrantes internacionais convidados foram enfáticos em criticar
o modelo atual de educação no País e fizeram duras críticas aos incentivos que
a EaD recebe do governo brasileiro. Outra curiosidade do evento: os temas e as
falas dos palestrantes internacionais foram bastante coerentes com o
apresentado na programação do evento, demonstrando, dessa vez, uma preocupação
maior dos organizadores com as expectativas criadas pelos inscritos a partir da
agenda divulgada para o evento.
Na
primeira sessão em que os temas seriam “Um Diálogo com Representantes do MEC e
o Marco Regulatório da EaD, 2015”, a ausência dos representantes da SERES,
Secretaria de Regulação e Supervisão da
Educação Superior, do MEC foi o principal assunto. O fato é que, graças à
presença de dois representantes do governo (SETEC/MEC e CNE), o debate ficou
limitado ao Marco Regulatório.
Nesse
sentido, o representante do CNE apresentou para discussão o que o Conselho
Nacional de Educação considera como parâmetros que subsidiarão o Novo Marco
Regulatório da EAD que será divulgado, em breve, para conhecimento de todos
após aprovação do MEC e do Conselho Nacional de Educação.
Os
parâmetros apresentados foram: diretrizes para a EaD, institucionalidades/políticas
institucionais, materiais e novos padrões de qualidade, diversidade de polos,
tutor e os profissionais da educação, foco na avaliação institucional-global;
avaliação de cursos, credenciamento e recredenciamento integrados e modelos
qualitativos de desempenho institucional.
Pontos
considerados de destaque na fala do representante do CNE: as novas políticas de
EaD precisam levar em conta os contextos atuais e futuros. A qualidade do
material didático e os cuidados com a manutenção do aluno (em seus contextos) e
com o acesso ao diploma devem conduzir o egresso ao emprego: isso é qualidade
na EaD. É preciso garantir retenção e reduzir a evasão. Essa qualidade deveria
ser considerada pelo INEP no processo de avaliação institucional. É preciso
institucionalizar a EaD considerando a avaliação da IES como um todo: polo de
apoio ao presencial + avaliação de cursos + credenciamento institucional +
avaliação institucional. Na organização
da oferta, a IES deve considerar que os polos de apoio ao presencial sejam uma
extensão universitária ou tenham as mesmas competências tecnológicas da
Universidade para bancar a EaD on-line,
criando um diferencial em relação ao modelo híbrido atual definido para esses
polos. Os polos e a sociedade devem ser, juntos, um espaço extensionista
regional da EaD. Em relação ao tutor da EaD, a ideia é considerá-lo como um
profissional diferenciado no plano de cargo da IES, um mediador pedagógico, sem
o confundir com o docente.
Surpreendeu-me
a realização, em paralelo, do 7º Fórum de Educação a Distância do Poder
Judiciário, CNJ, coordenado pelo representante da EaD corporativa no setor
judiciário Diogo Albuquerque. Um avanço, se considerarmos a importância dessa
inserção na agenda oficial do Congresso, abrindo espaço para outro grande
segmento de exploração das potencialidades da EaD: a educação corporativa a
distância. Creio que, devido ao avanço das pesquisas e da utilização da EaD na
aprendizagem corporativa, seria mais justo uma agenda de pelo menos 20% da
carga horária do Congresso disponibilizados para os palestrantes e debates de cases
de sucesso e experimentos no e-learning.
Talvez temas polêmicos do confronto atual entre as demandas de educação
corporativa e as potencialidades da EaD como mediadora. Nesse contexto,
sugere-se o debate sobre a importância da andragogia nas etapas de planejamento,
implantação e gestão da educação corporativa; do mesmo modo, o Design Thinking:
investindo em pessoas para buscar bons resultados; a gestão da EaD
corporativa além das quatro paredes da sociologia organizacional; menos
conteúdo e mais prática: um caminho sem volta na aprendizagem
organizacional; avaliação ou metas de
aprendizagem na educação corporativa?; aprendizagem ativa e mobile learning na
educação corporativa: criatividade e limites institucionais; novos ambientes de
aprendizagem corporativa e segurança da informação etc.
Desta
vez, as escolhas da ABED apresentaram um bom resultado tendo em vista o cuidado
da associação em responder às reinvindicações dos associados. Verificou-se um
alto nível de resposta dos convidados (Palestrantes)
e dos exemplos e recomendações apresentados por eles. Apresento a seguir alguns
destaques na minha percepção.
1.
Dia 25 – Palestras, atividades e
temas de impacto
PALESTRANTE
INTERNACIONAL: O FUTURO DA EDUCAÇÃO E A EDUCAÇÃO DO FUTURO: ROMPIMENTO TOTAL E
A "SINGULARIDADE TECNOLÓGICA"
José Luiz Cordeiro - Singularity University –
EUA
Enquanto
corremos atrás do MEC na tentativa de um consenso sobre o que é possível para preparar
e transformar a EaD em uma grande oportunidade de oferecer ensino, pesquisa e
extensão capaz de receber o que vem por ai, sob a provável tutela da
“Singularidade Tecnológica”[2], o
palestrante apresentou, em sua fala, contrapontos ao Marco Regulatório do CNE, SERES/MEC
para a EaD, em fase final de seus textos, cuja preocupação central, segundo
especialistas, ainda é proibir para melhorar...
Nesse
contexto, o palestrante traz para reflexões as dimensões do avanço tecnológico-digital
e o impacto desse avanço representado pelos seus artefatos (NBIC:
Nano-Bio-Info-Cogno e a inteligência artificial) embutidos no que alguns
pesquisadores chamam de Singularidade Tecnológica
que “vão ajudar a transcender muitas limitações humanas para melhorar vidas
humanas no mundo inteiro, e além do nosso pequeno planeta. Vamos avançar
rapidamente para um novo mundo, liderado por descobertas científicas e
inovações tecnológicas que irão mudar totalmente e interferir nos atuais
sistemas de ensino”. Assustou-me, em particular, um trecho da fala do pesquisador:
“tudo indica que daqui a 30 anos, devido à possibilidade do estado de imortalidade,
o homem pedirá para morrer. Talvez, depois disso, alguns humanos possam se
tornar transhumanos e posthumanos, mudando para sempre a vida na terra e o
universo”.
MINICURSO
4: O Evernote
e a Gamificação na Construção de uma Narrativa Colaborativa - Anibal Lopes Guedes – UNISINOS, Lidiane Rocha dos Santos – UNISINOS, Marcelo
de Miranda Lacerda – UNISINOS
Fiz
o curso com a intenção investigativa, de modo a somar novas perspectivas sobre
a gamificação na educação. Embora acompanhe esse movimento em outras ações
educacionais e eventos da ABED, foi uma excelente oportunidade de aprendizado.
Busquei nesse minicurso identificar diferenças entre o que conhecia de outras
inciativas e o que seria viável a partir do conhecimento teórico e prático
adotados nas inciativas da Unisinos em seus projetos de pesquisas sobre o tema.
Pontos
principais observados durante o minicurso: o primeiro ponto de destaque e
atenção foi as diferenças conceituais entre GBL – Gamificação Baseada no Learning (baseada em jogos educacionais
- o sujeito criando os seus próprios jogos); GBL, games para mudanças; utilização da ubiquidade[3]
como elemento de conexão entre o sujeito e as realidades encontradas e PBL -
Aprendizagem Baseada em Problema, uma representação do objetivo acadêmico:
aprender a partir da pesquisa sobre um determinado problema. Do ponto de vista
prático, o minicurso foi realizado em duas etapas: a 1ª, na parte da manhã, o
momento de reflexões teóricas sobre a gamificação, games e seus contextos, o método gamificação e as expectativas dos
inscritos.
Na
segunda parte, o momento de mãos à obra, com a formação das equipes de trabalho
e a incumbência de apresentar alternativas para um problema concreto definido
pelos orientadores do minicurso. Definiu-se a metodologia para o
desenvolvimento da atividade proposta, sendo: Etapa 1. Definição do problema (o
que vamos estudar, descobrir, pesquisar, resolver?) e a escolha do modelo Clãs[4]
para denominar as equipes. 2. Desenvolvimento das narrativas (contextualização
do problema) pelas equipes. 3. Indicação de pistas (vivas relacionadas a
pessoas, e mortas a imagens); 4. O pouso: o momento de imersão das equipes
formadas; 5. O desenho do caminho cartográfico, caminho da gamificação (quais
mecânicas, missões, pistas etc.) 6. Atores: utilizou-se o modelo CLÃS, com a
exploração da liderança-formigas e a aprendizagem cooperativo-colaborativa; 7. Análise
final, o debate entre os membros das equipes e a solução apresentada por eles.
O
uso do QR Code[5]
nas pistas durante o desenvolvimento da gamificação foi, novamente, uma das
experiências nesse tipo de modelo de aprendizagem mediada. Ficou evidenciada, durante a atividade
prática, a importância do modelo híbrido na gamificação: professor, aluno e
sala de aula (presencial e virtual). Chamou-me a atenção, o potencial do Software Evernote devido às configurações que ele apresenta para facilitar a implementação da gamificação em aprendizagem mediada. Pontos de destaque observados: 1 - a possibilidade de usar a interface Cadernos, verdadeiros diários e espaços de notas, armazenando imagens, textos, anotações, foto, gravações de voz e vídeos, possibilidade de escaneamento de imagens; 2- a riqueza de opções de compartilhamento durante o processo de gamificação para os inscritos nas equipes de trabalho ou que possuam contas no Evernote; 3 - o software pode ser encontrado no ambiente do google drive. 4 – permite a criação individual ou em equipe; 5 - permite o uso de etiquetas: #Hashtag como marcadores das notas criadas no ambiente Evernote. Os usuários conseguem anexar arquivos com até 25 megabytes por nota.
2.
Dia 26 - Palestras, atividades e
temas de impacto
PALESTRANTE NACIONAL:
GAMIFICAÇÃO EM ESPAÇOS DE CONVIVÊNCIA HÍBRIDOS, MULTIMODAIS E UBÍQUOS: UMA
EXPERIÊNCIA DE CONHECIMENTO
Eliane Schlemmer – Unisinos – Brasil.
Muito
boas as vivências apresentadas pela nossa representante brasileira nesse painel
e que deu sequência, do ponto de vista sistêmico, ao trabalho prático realizado
no Minicurso, dia 25, com o tema “O Evernote
e a Gamificação na Construção de uma Narrativa Colaborativa. Gostei, particularmente, do
modo singular como ela apresentou os principais elementos do trabalho inovador que
desenvolve no curso de pedagogia da Unisinos, usando a gamificação, modelo
híbrido, como pano de fundo, destacando: gamificar em contextos híbridos
(geolocalização, vídeos, imagens e espaço presencial), multimodal, ubíquo
(usando modelo BYOT de
"bring your own technology", ou "traga sua própria tecnologia",
Portal Uol, 2013) e sala de aula invertida. Recomendou como mecânicas o método
cartográfico, as missões narrativas, pistas (vivas e mortas), conquistas
(considerar o desafio e a dimensão do problema objeto da gamificação) e
poderes. Recomendou ainda que para trabalhar com o significado da gamificação é
preciso: compreender o problema, objeto de estudo; compreender o contexto em
que ele se encontra; compreender a cultura dos sujeitos envolvidos na proposta
de aprender pela gamificação (como eu desejo que eles se sintam? Qual a cultura
dos sujeitos? Quais são os objetivos pedagógicos dos sujeitos?).
Compartilhou,
a expositora, segundo minhas anotações, o método que utiliza na aprendizagem
curricular do curso de pedagogia que coordena na Unisinos, fazendo uma
introdução sobre: GBL – Gamificação Baseada em Learning (baseada em jogos
educacionais - o sujeito criando os seus próprios jogos); GBL, games for change; utilização da
ubiquidade como elemento de conexão entre o sujeito e as realidades encontradas.
Em seguida apresentou as Etapas: 1. definição do problema (o que vamos estudar,
descobrir, pesquisar, resolver?) e da equipe no modelo CLÃS; 2. narrativa
inicial (contextualização do problema); 3. indicação de pistas (vivas e mortas);
4. o pouso: a imersão do aluno e espaços presenciais; 5. o caminho
cartográfico, caminho da gamificação. 6. definição dos atores: utiliza o modelo
CLÃS, com a exploração da liderança-formigas e a aprendizagem
cooperativo-colaborativa; 7.Análise final, o encontro com a equipe e a solução
apresentada.
Pareceu-me
mais um dos grandes desafios da EaD, se pensarmos que o público alvo desse
projeto é o Curso de Pedagogia, cujo modelo curricular mais adotado no Brasil
ainda passa longe dessa proposta. Observou-se, ainda, o empenho da coordenação
do projeto em preparar pedagogos para dar conta do aluno, que em breve estarão
recebendo em novos espaços de aprendizagem, acostumado ao excesso de
informações disponíveis na cibercultura e ao modo de convivência amigável e
criativa com os artefatos e interfaces de alta complexidade tecnológico-digital
e 3D.
PALESTRANTE
INTERNACIONAL: ESCOLHAS E DESAFIOS – LIÇÕES APRENDIDAS COM A EVOLUÇÃO DA
EDUCAÇÃO ON LINE
Andy Di Paolo – Stanford – EUA
Muito
interessante o jeito do pesquisador Di Paolo reforçar a necessidade de focar o
aprendizado nas pessoas: o que as pessoas já sabem sobre o que você pretende
ensinar? A fala desse pesquisador me fez recordar um dos dez pressupostos
andragógicos da educação do adulto: o adulto aprende e apreende, rápido e
melhor, aquilo que pode agregar valor ao que já sabe (da vivência ou da
pesquisa). Nesse sentido, o palestrante chama a atenção para a necessidade de
dividir os currículos em módulos menores e essenciais. Dar crédito ao currículo
do estudante apropriado antes da sua formação oficial e acadêmica. Destacou que
a geração Y ou gerações digitais querem ser testadas para saber o que já aprenderam, dominam. Querem ser parte de
uma comunidade de aprendizagem, onde o professor é um dos atores e não o ator
principal.
Nessa
perspectiva pedagógica, o pesquisador insiste no pensamento de que os alunos de
hoje não querem o curso inteiro idealizado pela instituição, pelo autor do
curso, mas somente uns pedaços do curso... Pedaços essenciais, com muitas aulas
práticas e um sistema ativo de avaliações e feedback
em processo. Destacou que para isso é preciso que o conteúdo tenha um selo de
qualidade atestado pelos alunos, pela comunidade acadêmica e pela sociedade.
Sugere que, em complemento, os alunos recebam mensagens programadas e vídeos,
via smartphone, que auxiliem na
compreensão dos conteúdos. Sugeriu, como forma de engajamento do aluno, a
oferta de cursos livres que possam complementar a carga horária curricular.
Finalizando
sua fala, recomendou cinco coisas que ajudam na oferta de uma EaD contemporânea:
1- pense a EaD como uma opção estratégica; 2 - investigue se a urgência da IES
é idêntica à sua para implantar a EaD. Se não, provavelmente a sua estratégia
esteja no caminho errado; 3 - qual o tamanho do escalonamento institucional
para a EaD (capacidade de oferta)? Você tem os recursos e investimentos de que
precisa? Não prometa o que não pode entregar... Faça parcerias, mas olhe com
cuidado os interesses dos parceiros. Eles podem ser diferentes dos interesses
da sua IES. 4 - a mentalidade do serviço educacional prestado - tente desenhar
o mapa de interação entre alunos, professores e a comunidade acadêmica de modo que
ele esteja associado aos interesses do aluno: o que as pessoas já sabem sobre o
que você pretende ensinar? 5 - medir tudo é essencial: a satisfação do aluno
deve ser soberana, sobretudo no controle da aprendizagem adaptativa, avaliada
sistematicamente. Qual é o nível de aprendizagem na sua IES? Quanto tempo você demora
em dar o feedback ao aluno? Qual o
nível de qualidade desse feedback?
Por fim: esteja preparado para o fracasso e aprenda com ele.
ENCONTRO:
ENPED - ENCONTRO NACIONAL DOS PROFESSORES DE EAD Coordenação: Enilton Ferreira Rocha - ENPED
Neste
encontro o debate ficou por conta dos principais questionamentos da nova
configuração para o trabalho home office
do tutor e do professor na EaD. Discutiram-se as mudanças que serão
implementadas caso a atividade home
office, que já é realidade em algumas grandes IES, seja uma regra geral
para o trabalho dos tutores e professores da EaD. Foram apresentadas algumas ações, em curso,
implementadas por IESs que oferecem um número de vagas de grande
representatividade na oferta de educação a distância no País. Discutiu-se ainda
o impacto dessa modalidade de trabalho levando em consideração alguns fatores
de planejamento: o que muda na rotina do professor e do tutor? Quais seriam as
interfaces de autonomia docente e do apoio técnico do tutor? Qual seria a estrutura
da Matriz de Planejamento Home Office
(tempo, espaço, metas, autocontrole etc.); aspectos jurídicos do Home Office (registos ou controle?); o
perfil do profissional do Home Office
e a necessidade de autosupervisão. Do mesmo modo, a discussão sobre alguns
pontos principais dessa mudança: quanto mais controle mais riscos no home office; remuneração baseada em
metas e reflexos da CPA; não há controle de ponto, mas controle de resposta, de
adesão (diário/quinzenal/mensal) para execução de metas; bônus substitui horas
extras. Bônus de entrega e bônus de atraso na mesma proporção sobre o valor da
carga horária prevista; contrato de trabalho e encargos sociais diferenciados.
Ao
final do encontro ficou a seguinte questão: estamos preparados (professores, tutores
e IES) para essa mudança na EaD?
Do
ponto de vista prático, observou-se que em relação à classificação Catálogo Brasileiro
de Ocupação, CBO, que está em negociação entre o MEC e o Ministério do Trabalho
e que será incluído no CBO, essa modalidade de trabalho não está sendo
considerada, em suas particularidades, e isso poderá gerar um grande transtorno
para a institucionalização do papel do tutor na EaD.
3.
Dia 27 – Palestras, atividades e
temas de impacto
PALESTRANTE INTERNACIONAL: MISTURANDO
SUA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA: GERAÇÕES DE PEDAGOGIA E TECNOLOGIA EM EDUCAÇÃO A
DISTANCIA E AGREGAÇÕES SOCIAIS
Terry Anderson – Athabasca University – Canadá
Embora
tenha lido: “TRÊS GERAÇÕES DE PEDAGOGIA DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA, Terry
Anderson, Jon Dron, João Mattar (Trad.), 2012”, ao ouvir o palestrante deparei-me com reflexões e inquietações
que ficaram quando da leitura dessa tradução. Muitas, esclarecidas durante a
fala do orador.
A
1ª geração - focada no aluno como centro das atenções e na sua capacidade
cognitivo-behaviorista de aprender, reforça o empoderamento do aluno. Nessa
perspectiva pedagógica, o professor precisa apropriar-se das competências de um
curador da educação. Profissão bastante nova e que demanda tempo para a
qualificação profissional necessária. Recomenda-se uma estreita relação entre
as potencialidades tecnológicas da EaD e a pedagogia (o movimento - o caminho
pedagógico pelas interfaces tecnológicas e o tempo da aprendizagem
individualizada - o que aprender?). Como aspecto negativo, o palestrante
questiona o efeito do ensino-aprendizagem nesse modelo em uma “caixa de
ensino”. Destaca os aspectos da instrução, fora de uso na sociedade digital
atual, como design educacional, numa
perspectiva mais próxima de treinamento e cursos massivos tipo MOOCs (Massivos Online e Abertos). Do
ponto de vista da individualidade lembra que o cognitivo se aproxima da
liberdade de apender sozinho, próprio de alguns alunos. Nesse sentido,
recomenda que o governo brasileiro invista em REAs - Recursos Educacionais Abertos
- considerados como fatores de economia para alunos e o governo. Destacou ainda
que nesse modelo o uso da mineração de dados (BI)[6] no
controle da aprendizagem é importante, de modo a fazer um acompanhamento
analítico-adaptativo da aprendizagem individual e fazer os ajustes necessários.
2ª geração
- a social-construtivista, prevalecendo o aspecto da aprendizagem grupal, tendo
como foco a colaboração e a cooperação que se complementam. Nessa intenção
pedagógica, o aluno continua como centro das atenções, mas em uma abordagem
construtivista, aprendendo com os outros, aprendendo a compartilhar e se
desenvolver em grupo, momento em que suas habilidades sociais são incentivadas
e avaliadas. É a geração que trabalha os
relacionamentos na aprendizagem coletiva, baseada em um design educacional de aprendizagem social. Como aspecto negativo, o palestrante destaca o risco de o
professor ser o limitante do tamanho dos grupos de aprendizagem
colaborativo-cooperativa. Acredita que a educação a distância pode ser uma
grande aliada nesse processo de otimizar a aprendizagem compartilhada e em
grupos, na perspectiva de socialização do aprender. Recomenda ações docentes
que estimulem aprendizagem grupal, que reforce a possibilidade de compartilhar
para aprender com os outros.
3ª
geração - a geração baseada no conectivismo, cuja abordagem para a reconstrução
do conhecimento usa como base a rede de aprendizagem mediada (máquinas e
pessoas), desde que o centro das atenções seja o estudante. Chamada por alguns
de “conhecimento conectivista”. A grande aliada nesse modelo é a internet
exercendo o estado de ubiquidade desejado/recomendado
para a mediação nessa geração pedagógica da EaD. O palestrante chamou a atenção
para três aspectos particulares dessa perspectiva pedagógica: a rede, como
mediação, as resistências naturais do ser humano e as possibilidades do modelo
pedagógico conectivista. Muitas das resistências nascem de permitir o
conectivismo a quebra da “bolha da aprendizagem” ou “caixa da aprendizagem”,
favorecendo a disruptura da pedagogia enlatada, diferentemente do que exige a
primeira geração: muito controle para aprender... Nessa geração o controle é
mínimo, tendo em vista que o aluno-aprendiz assume o controle do seu aprendizado,
do seu envolvimento no processo de busca, de intervenções.
Resumindo:
na 1ª geração, o cognitivo estabelece o processo e mecanismo de aprendizagem a
distância, prevalecendo o individualismo; na segunda, o coletivo focado no
aluno se fortalece pela aprendizagem social-grupal. E na terceira, as redes de
aprendizagem são o forte na mediação tecnológico-digital fortalecendo a
aprendizagem em várias formas sociais, sem perder de vista a atenção ao aluno.
Nesse modelo, o conteúdo aprendido e apreendido fora da “bolha da aprendizagem”
assume significados imensuráveis, do ponto de vista da aprendizagem e dos
interesses comuns.
Algumas
conclusões apresentadas pelo palestrante, segundo minhas observações: estamos
diante de diferentes pessoas com diferentes maneiras de aprender; as gerações
são diferentes e precisam ser respeitadas; a combinação das três gerações de
pedagogia da EaD não aumenta o trabalho do professor que opta por esse novo
jeito de lidar com a aprendizagem a distância e mediada. Pelo contrário, o
coloca na lista dos professores que possuem a habilidade de conviver
harmonicamente com a sociedade digital vigente. Sugere a aprendizagem baseada
na gamificação, em pequenas partes e, sugere ainda que o conteúdo seja focado
no essencial, onde menos pode ser mais... para uma aprendizagem significativa
que utilize o e-book como tutorial
para as três gerações.
APRESENTAÇÃO:
USO DO DESIGN THINKING COMO METODOLOGIA PARA A INOVAÇÃO Cristiano Franco – Kroton
Muito
interessante o modo como o representante da Kroton apresentou conceitos e
concepções dessa nova proposta metodológica e ativa, aplicável na EaD. Para
muitos o Design Thinking[7]
ainda é uma incógnita da inovação na EaD, mas para estudiosos das novas metodologias
ativas essa proposta significa desenvolver aprendizagem centrada em pessoas, a
partir do que elas pensam, do que elas cobram, enquanto estudantes, usuários ou
colaboradores. A partir do potencial criativo dos usuários/estudantes em busca
da resolução de um determinado problema, pode ser a grande jogada para obter
bons resultados na aprendizagem mediada e a distância.
Segundo
o representante da Kroton, na minha percepção, o modelo desenvolvido na IES é
centrado no aluno e possui o seguinte processo metodológico: 1 - a imersão do
aluno, um estudo detalhado sobre quem é o nosso aluno. 2 - A análise - o que
encontramos, o que descobrimos? 3 – o
momento da ideação: quais são as melhores ideias? 4 - a prototipação - qual modelo educacional
vamos adotar? Na primeira fase, da imersão, faz-se o estudo detalhado do perfil
do aluno buscando conhecer: o nativo digital tendo como referência o personagem
criado com o apelido de “Yuri”; na sequência, o perfil do aluno engajado considerando
o diferencial de feedback, de esforço
individual e coletivo, representado pela
personagem “Patrícia” e finalmente o terceiro personagem denominado de migrante
digital, “Jairo”, não acostumado com as interfaces e mundos digitais de
aprendizagem. Busca-se com esses personagens identificar na pesquisa de perfil:
o entendimento dos rituais, quais informações eles consomem; procura-se traçar
a jornada ideal para atendê-los, os critérios de design educacional adequado aos perfis encontrados etc. Apresentou
a metodologia de definição dos Critérios de Design
Educacional : 1- A Imersão - tendo como amostra 400 alunos escolhidos de
acordo com os perfis dos três personagens. 2 – A análise da amostra encontrada.
3 - a Ideação – considera-se o número de ideias correspondente a 10% do
volume de alunos da amostragem da imersão, para a partir desse percentual escolher
as melhores ideias. Quanto maior o
número de ideias melhor, usando espaços colaborativos ou públicos para coletas.
As mais votadas viram protótipos. Recomenda-se usar o AVA[8]
como laboratório. 4 - A prototipação - a definição das mudanças no modelo
educacional (sistema de tutoria, material didático, sistema de avaliação,
processo de comunicação, feedback e
gestão de ensino etc.) deve considerar o resultado da ideação e da análise de
dados). Nessa etapa, a formação da equipe com pessoas de áreas diferentes e a
identificação dos contextos do problema por meio de entrevistas e questionários
fazem a diferença rumo aos objetivos esperados. Do mesmo modo, a análise de
dados apurados na fase de imersão.
Outra
informação importante sobre esse design
refere-se aos critérios para a escolha dos membros da equipe responsável pela
aplicação da Metodologia Design Thinking
na IES: acredita-se que o cuidado em montar uma equipe multidisciplinar é
fundamental para o sucesso do modelo desenhado a partir dessa metodologia,
misturando pessoas com experiência, habilidades e sensibilidades para a
compreensão das relações humanas e sociais em processo de aprendizagem, capazes
de compreender os pressupostos da aprendizagem mediada e a distância, de compreender
as particularidades da modelagem tecnológico-digital de mediação da
aprendizagem.
Enfim,
ficou a mensagem de que o Design Thinking
pode ser uma solução, desde que o foco seja pessoas (desejos, comportamentos,
praticidades, soluções e viabilidades, empatia e observações); bem como a
capacidade de ideação dessas pessoas na busca de alternativas educacionais que
as transformem em protagonistas de suas aprendizagens, sugerindo ações
inovadoras e recomendações.
4.
DIA 28 - Palestras, atividades e
temas de impacto
METODOLOGIAS ATIVAS E A
INTERDISCIPLINARIDADE: UM CASE
BETA-TESTE E PROPOSITIVAS NA EAD DA FUMEC
Apresentadores: Alessandra
Latalisa de Sá – FUMEC, Gabrielle Nunes Paixão – FUMEC, Enilton Ferreira Rocha
– FUMEC e Lana Paula Crivelaro – UNIFOR (Observadora/Interventora)
Creio
que tão importante quanto os demais temas e atividades do congresso foi o
debate promovido por alguns integrantes da equipe de educação a distância da
Universidade Fumec. Durante a mesa redonda discutiu-se a proposta de
interdisciplinaridade e metodologias ativas na EaD com representantes da gestão
da EaD das IES Newton Paiva e Unifor, bem como da AGU, RS, além da participação
de especialistas presentes. Trata-se de uma mudança significativa que se
encontra em fase beta-teste no curso de Pedagogia a Distância da Universidade,
cujo objetivo, nesta fase, é mudar o sistema avaliativo (tradicional) atual dos
demais cursos, a distância, usando o curso de Pedagogia como laboratório vivo,
testando: metodologias ativas baseadas em resolução de problema e a
interdisciplinaridade mediada e a distância. Além disso, foi apresentado o que está
previsto para a segunda etapa, em complementação, sendo um conjunto de mudanças
com a introdução da Sala de Aula Invertida, Mobile
Learning, racionalização e melhoria do processo de gravação das videoaulas,
melhoria do processo de seleção de alunos e de professores e conexão das videoaulas
e aulas com o mundo externo de professores e alunos.
O
debate principal durante a mesa redonda ficou por conta da necessidade e
urgência em considerar nessas mudanças a presença do humano, seus contextos e
desejos/expectativas. Discutiu-se com ênfase a participação do aluno nesse
projeto como ator principal de mudanças e de explorações pedagógicas. Outro
ponto importante no debate foi a importância de usar as redes sociais
(fechadas) como interface colaborativo-interativa, não perdendo de vista a
“imaturidade” da maioria dos alunos que optam pela EaD. Ainda nessa linha de
perspectiva, a adoção da metodologia mobile
learning associada às metodologias ativas. Discutiu-se ainda o peso da
participação das IESs nesses processos de inovação na EaD.
A
agenda apresentada durante a mesa redonda foi composta dos seguintes itens: A
inovação Pedagógica, EaD na FUMEC, O porquê do Projeto, O Projeto e seus
objetivos, Pontos positivos, Dificuldades operacionais e Próximos passos.
Acesse no link (ou
copie e cole no browser) a seguir, os detalhes da agenda objeto dos debates: http://pt.slideshare.net/enilltonferreirarocha/inovao-pedaggicoandraggica-sistema-de-avaliao-na-ead-da-fumec-54888725
Considerações finais
A sensação que tenho, voltando desse evento e tendo a oportunidade de participar,
conversar, discutir com alguns especialistas, pesquisadores, palestrantes e coordenadores
de mesas redondas e apresentações, é que estamos no estágio 02, de 01 a 05, da
evolução da EaD no mundo contemporâneo. Infelizmente!
São muitos os fatores que contribuem para esse atraso: a regulação, muitas vezes
exagerada do MEC, na intenção de controlar para avançar..., a falta de
investimento do governo em tecnologias de comunicação e informação acessíveis e
gratuitas para uso em projetos de inovação na EaD; o distanciamento entre o
modelo educacional brasileiro baseado em currículos “bolha” e “caixinhas”,
longe das realidades encontradas no cotidiano dos alunos e dos professores. A
falta de investimento adequado em formação de pessoas para a EaD, subestimando
o potencial da aprendizagem mediada e a distância, usando, em contrapartida, a
pedagogia da transferência e massificação da aprendizagem etc.
Alguns
recados fundamentais ficaram para mim na passagem e vivências durante o Congresso:
mais do que nunca o humano deve ser o centro das atenções em qualquer modelo
educacional quer pedagógico ou andragógico; a geração digital e a sociedade
atual clamam por conteúdos essenciais, modulares, menores e de melhor
qualidade, para que haja mais prática em lugar do professor teórico em salas de
aula; que as metodologias ativas saiam do papel e assumam o dia a dia do ensino,
da pesquisa e da aprendizagem, em qualquer área do conhecimento científico; que
as tecnologias sejam, de fato, o grande colaborador do homem, como interfaces
em seus projetos de inovação, criação, flexibilidade e acessibilidade.
Enfim,
valeu a pena participar do 21º Congresso ABED Internacional de Educação a
Distância, 2015, em Bento Gonçalves, RS, em todos os aspectos: da busca por
novos horizontes educacionais, novos saberes, ao prazer de encontrar com amigos
nascidos dos desafios de compreender e utilizar a EaD.
Referências:
http://www.abed.org.br/hotsite/21-ciaed/pt/programacao/
[1]
ABED, Associação Brasileira de Educação a Distância
[2] Singularidade Tecnológica - Quatro ciências e tecnologias do
futuro, que se referem como NBIC: Nano-Bio-Info-Cogno, baseadas em inteligência
artificial (Cordeiro, J. Luiz, 2015).
[3] - Ubiquidade - Onipresença; Circunstância ou condição daquilo
que existe ou se encontra em todas as partes, locais, pessoas, objetos etc. O
fato de estar ou existir concomitantemente em todos os lugares, pessoas, coisas.
WIKCIONÁRIO, 2015.
[4] Um grupo de jogadores que jogam regularmente juntos e em
particular em jogos
por rede, normalmente como uma equipe. Geralmente nas
mesmas funções, onde líderes e liderados se confundem. (Dicionário On line
Português)
[5] O QR Code consiste de um gráfico 2D de uma caixa preto e
branca que contém informações pré-estabelecidas como textos, páginas da
internet, SMS ou números de telefone (Coelho, IG Tecnologias, 2015).
[6] - O termo Business Intelligence (BI), refere-se ao processo de
coleta, organização, análise, compartilhamento e monitoramento de informações
que oferecem suporte à gestão e transformam uma grande quantidade de dados
brutos em informação útil para tomadas de decisões estratégicas. (Novato, 2014)
[7] Design Thinking significa acreditar que
podemos fazer a diferença, desenvolvendo um processo intencional para chegar ao
novo, a soluções criativas, e criar impacto positivo”, Design Thinking para
educadores, outubro, 2015.
[8]
LMS – Sistema de Gestão de Ensino a Distância
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